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sábado, 23 de outubro de 2010

Uma lenda viva chamada Danilo Michel


Prezados amigos e visitantes do Blog Showroom Imagens do Passado!


 É com muita honra e prazer que hoje, nesta postagem eu venho contar um pouco da história de vida de um grande amigo pessoal chamado Danilo Michel ou simplesmente "Seu Danilo" .  
    Eu ainda não havia contado esta história aqui por um motivo muito nobre que todos os amigos vão saber no final desta postagem.   Hoje vocês vão conhecer a história de um grande homem, que nasceu logo no início da década de vinte, e que teve o privilégio de acompanhar toda a trajetória do automóvel até os dias de hoje.  Nesta mesma postagem meus amigos vocês vão conhecer a história do carro que ilustra a página de abertura deste blog. Isso mesmo, meus amigos vocês terão a oportunidade de conhecer a história, deste Dodge Kingsway Custom 1950, que pertenceu ao simpático senhor da foto ao lado. Pesso à todos vocês que se acomodem confortávelmente nas suas cadeiras, pois daqui pra frente vem uma grande história recheada com lindas e maravilhosas fotografias de época.

Uma lenda viva chamada Danilo Michel

    O antigomobilismo sem sombra de dúvidas é uma coisa maravilhosa, que nos faz voltar ao passado e relembrar diversos momentos das nossas vidas .

    Esse movimento que não vem de agora, querendo ou não, acaba influênciando nas nossas vidas, acalenta os nossos sonhos , e faz com que as pessoas criem novas amizades dando força ao movimento que ainda tem muito o que crescer.
    O antigomobilismo também é repleto de histórias, algumas já velhas conhecidas do nosso meio e outras que ao poucos estão sendo trazidas à tona para o conhecimento do público antigomobilista em geral.
    Algumas histórias são muito boas, possuem um final feliz e acabam nos deixando ao mesmo tempo muito satisfeitos por tudo ter dado certo.
    Outras acabam não tendo um final tão brilhante e nos ensinam o que nós devemos mudar.
    Depois desta pequena introdução sobre o que é o antigomobilismo e como ele influência nas nossas vidas, quero fazer uma pequena homenagem a um jovem amigo meu, de 86 anos de idade, que com toda a sua simplicidade e ao longo de sua vida , construiu uma das mais belas histórias de vida que eu já tive a oportunidade de conhecer.
    Com muitas histórias para contar e também muitas coisas para ensinar aos mais jovens que gostam de ouvir e aprender.

Antigo prédio da oficina São José.

    Um prédio antigo no centro da cidade, sentado em frente a ele, um senhor idoso, observando o movimento da rua, comprimentando as pessoas que por ali passam e sempre aguardando a visita de seus antigos e nem tão antigos amigos assim para alguns bons momentos de conversa.

    Quem passa por ali e tem a oportunidade de ver essa cena tão comum, sequer imagina que aquele senhor possui grandes histórias para contar.
    Dotado de uma inteligência fora do comum, transmite os seus conhecimentos com o maior prazer.
    Testemunha dos tempos difíceis do nosso país onde sequer a energia elétrica e os serviços tão comuns a sociedade atual eram disponíveis, relata com clareza de detalhes histórias e também algumas dificuldades que ele enfrentou durante os anos em que trabalhou como mecânico de automóveis .
    O nome dele, Danilo Saturnino Michel  nascido e criado na cidade de São Leopoldo/ RS em 29 de Novembro de 1923.
    Ao longo de todos esses anos , pode presenciar a evolução do automóvel desde as primeiras décadas até os dias de hoje.
    Sabe contar com clareza de detalhes as características mecânicas e também os problemas característicos, de cada carro que passou pelas suas mãos apresentava.
    Começou a trabalhar logo cedo , como o seu irmão Oscar Diogo Michel na oficina do seu pai o senhor João Otacílio Michel, que era proprietário da oficina chamada de Garagem América no centro da cidade de São Leopoldo/RS.
    Trabalhando durante alguns anos em família teve a oportunidade de aprender muitas coisas com o seu pai atendendo assim aos serviços dos poucos e incomuns automóveis existentes na região naquela época.
    Paralelo aos trabalhos da Garagem América, também atuava como “Choffer” de carro de praça, como ele costuma frizar.
    Usando carros como o Ford modelo A 1929, Oldsmobile 1925, Buick 1930 entre outros.
    Passado alguns anos, começou a trabalhar sózinho contando com a ajuda de alguns poucos funcionários , alugou a oficina que era do seu pai e começou a caminhar com as próprias pernas.
    Juntamente com o seu pai, também chegou a prestar digamos assim alguns serviços de utilidade pública na época ,em que a energia elétrica não era algo comum como nos dias de hoje.
    A bordo de alguns caminhões ( jardineiras) feitos artesanalmente, por eles mesmos sobre o chassi de carros de passeio, tais como o Ford bigode e posteriormente sobre o chassi do Ford modelo A, prestava serviços de iluminação através de um gerador nas festas promovidas pelos clubes da época como também nas festas promovidas pelas igrejas .
    Prestando esses serviços de iluminação, aos poucos foi introduzindo novos serviços como por exemplo a exibição de filmes, ainda na época do cinema mudo, utilizando um projetor movido a manivela. E quando não estava prestando esses serviços , utilizava as jardineiras, para pequenas excursões.

    Vale lembrar aqui, que o cinema é outro hobby do seu Danilo, que possui em sua casa, alguns projetores, duas telas de cinema e também alguns rolos de filmes antigos.
    Nos momentos de folga em que não estava trabalhando na oficina estava nos cinemas da cidade, que eram o Cine Independência e o Cinema Brasil seja como expectador ou como o responsável pela exibição dos filmes em cartaz.
    Mais ou menos, na década de cinqüenta adquiriu um terreno no centro da cidade.
    Aproveitando toda a sua capacidade e o seu conhecimento, desenvolveu todo o projeto do prédio onde viria a existir o seu estabelecimento comercial e também a sua residência.
    Com o projeto em mãos, foi fazer uma visita a um amigo e também cliente que era engenheiro, para ver se estava tudo certo naquele rascunho.
    Para a sua própria surpresa, o engenheiro formado disse que havia somente uma coisa a ser mudada no projeto.
    O lado para que uma das portas deveria abrir.
    Com o novo prédio pronto, inaugurou a sua nova oficina batizada de oficina São José e estabeleceu residência no endereço que vive até os dias de hoje.
    Com a inauguração da nova oficina, acabou trazendo junto toda a clientela de outrora. Segundo relatos do próprio senhor Danilo, possuía a melhor e também mais exigente clientela da cidade.
    Até aqui parece ser mais uma história comum, mas as histórias mais incríveis ainda estão por vir.
    Nessas horas de conversa que eu tive o privilégio de estar junto escutei relatos de um mecânico de verdade, que conta como conseguiu resolver diversos problemas daqueles carros que sequer eram fabricados no Brasil pois na época ainda não existiam carros nacionais.
    Tudo isso com os pouquíssimos recursos que existiam na época.
    Problemas esses que para nós mais jovens, ficam difíceis de serem entendidos e de imaginar como ele conseguiu vencer esses obstáculos.
    Afinal de contas, naquela época não existiam escolas ou cursos profissionalizantes e as fontes de informações também eram escassas.
    Logo nos primeiros anos de existência da oficina São José, o sistema de empresa familiar continuou e toda a família trabalhava junto.

     Sendo eles o próprio senhor Danilo, a sua esposa e na seqüência os seus quatro filhos, que com o passar do tempo foram tomando o próprio rumo e seguindo outras profissões.
    Alguns relatos, como foi mensionado logo acima fazem com que nós literalmente tenhamos que prestar muito a atenção, para entender como tudo foi feito e como tudo aconteceu.
    Como por exemplo, a história de um Dodge 1923, que foi cortado ao meio, para se transformar em uma pick-up.
    Como conta o próprio senhor Danilo, coisas de jovens malucos que queriam inventar e que faziam absurdos em cima de alguns carros.
    Mas tudo isso com muito empenho e com a certeza de que tudo daria certo no final do “projeto” .


    Esta pick-up, foi construída por ele, em cima de um Dodge 1923, ano em que ele nasceu, como ele gosta de falar.

    O carro teve a carroceira cortada ao meio no sentido longitudinal ( da frente ao fundo ) do carro até o final dos bancos dianteiros.
    Após isto, a carroceria foi alargada e o carro recebeu uma nova grade dianteira e também um novo capo feitos a mãoà partir de chapas lisas, e também um pequena caçamba em madeira.
    Confeccionou também, o modelo e a armação, da pequena tolda, que após ser revestida por um estofador foi instalada no carro.
    Nas primeiras décadas do século passado o número de carros nas ruas não era comum como nos dias de hoje e para adquirir um automóvel novo também não era nada fácil.
    Então a única alternativa que ele tinha era o de restaurar ou fazer pequenos concertos naqueles carros que as pessoas já deixavam de usar.
    Como ele mesmo diz pegava as sucatas e os transformava em carros de verdade.
    Uma história muito interessante, é a de um Ford 1941 de chassi comercial, que ele transformou em uma legítima “Wood” .

    Nas duas primeiras fotos, nós podemos ver o inicio dos tabalhos para a construção deste veículo, e na terceira o esboço das partes que viriam a ser confeccionadas em madeira, rabiscado em algumas folhas de cartolina.
    Depois de todo este trabalho, de restauração e modificação da carroceria do Ford 1941, foi contrato na época um grande profissional, que segundo o depoimento dele era um dos melhores profissionais da época e que tinha grande habilidade com trabalhos em madeira.

    O trabalho de construção das partes de madeira, foi feito na cidade de Esteio/ RS, onde residia o artesão.
    E todo o dia ele fazia uma visita para ver como estava indo o trabalho de moldagem e construção das peças.
    Depois de alguns meses, o trabalho ficou pronto como nós podemos ver logo abaixo e na hora de fazer o pagamento do trabalho do madeiramento o profissional não sabia o que cobrar, pois havia recebido muitas dicas do senhor Danilo de como fazer as peças, deixando encabulado o profissional.

Após alguns meses de trabalho o Ford 1941 " Wood " estava finalmente pronto.

    Para poder escrever esta matéria, como eu já mencionei antes, conversei durante muitas horas durante alguns dias com o senhor Danilo e também depois de um pouco de insistência consegui algumas fotos antigas da época em que ele estava em plena atividade.
   Fotografar naquela época não era algo muito comum, pois custava dinheiro e as pessoas não davam muita importância para isto.
    Mas felizmente ainda assim consegui encontrar algumas imagens muito interessantes que ajudam a mostrar o  ótimo trabalho feito por ele em alguns carros na época com todo o seu esmero, dedicação e também com todo o seu capricho.
    Imaginem vocês como era difícil, em uma época em que não se existiam os recursos de hoje, como a “massa plástica “ que é destinada para uso em pequenos detalhes, mas que as vezes são usadas erroneamente para verdadeiras reconstruções em cima dos carros, como também todas essas ferramentas que existem hoje em dia. .
    Uma época em que não existiam também os laboratórios de tintas ou coloristas como vocês preferirem para fazer aquela tinta naquela tonalidade específica.
    Muito menos um ciborg ou alinhador, para desentortar e trazer a posição original as longarinas dos automóveis acidentados.
    Porém todas essas adversidades não faziam com que ele fizesse o seu trabalho de qualquer maneira.
    Para desentortar os carros ele desenvolveu um sistema próprio semelhante aos usados antigamente.
    A tonalidade das tintas para serem feitos os retoques ou até mesmo as pinturas gerais eram feitas por ele mesmo em diversos experimentos, chegando ao ponto também de conseguir manipular a tinta para a tonalidade de envelhecimento.
    Tudo isso era feito e refeito até que a tonalidade ideal estivesse certa.
    No acervo fotográfico da família, encontrei algumas fotos do passo a passo do concerto de alguns carros.
Algumas do antes e outras do depois e também somente algumas fotos dos carros batidos e não dos carros prontos.


Como por exemplo este Ford 1939 logo acima que sofreu uma pequena colisão frontal danificando o seu paralamas dianteiro.
Mas na segunda foto já podemos ver o carro pronto, com todo o seu alinhamento em dia

Este Frazer, chegou com o paralamas totalmente danificado.

E depois de pronto ficou como nós podemos ver nas fotos acima.

Este Mercury 1946 também chegou bastante danificado, dando um certo trabalho para ser concertado.

 Mas como o homenageado nesta matéria não media esforços deixou o Mercury 1946 como novo.


Este Mercury 1949 também chegou bastante danificado.
Porém, depois de algumas semanas de trabalho ele estava como novo, com toda a pompa e glamour que uma Mercury 1949 merece.

Esta DKW-Vemaget, também chegou bastante danificada, após colidir contra um cavalo na estrada.

E depois de pronta ficou como se nada tivesse acontecido com ela.
    Bom meus amigos!
   
    O carro da foto acima dispensa apresentações, pois já é um velho conhecido de todos vocês que visitão regularmente o blog Showroom Imagens do Passado.
    Falo isso pois já faz um bom tempo que ele está no topo logo na abertura do blog ou no rodapé no final de cada postagem.
    Mas como eu falei em uma das postagens anteriores, eu iria contar a história particular deste Dodge Kingsway Custom 1950.
    A história do Dodge Kingsway Custom 1950    

    Outro carro que me chamou muito a atenção nas fotos do acervo da família foi um Dodge 1950 Kingsway Custom que foi adquirido pelo senhor Danilo, em péssimo estado.
    Porém, eu não encontrei nenhuma imagem do carro antes da sua restauração.

    Esse carro foi adquirido na cidade de São Leopoldo, e segundo relatos era utilizado pela administração municipal.
    Ou seja!
    Carro de “diversos motoristas e serviços” .
    O estado do carro era deplorável, pois as pessoas que o utilizavam diariamente e se diziam motoristas fizeram muitas estripulias com ele, chegando a pular alguns pontilhões em algumas localidades que foram visitadas .
    Este carro foi adquirido após a venda deu um Austin, e foi este carro que despertou no senhor Danilo a admiração e a preferência pelos veículos da marca.
    Após a aquisição deste Dodge 1950 Kingsway Custom deu-se ínicio ao processo de restauração .
    Quando começou o trabalho de restauração , confessou, que em uma certa ocasião chorou ao lado do carro, pois não sabia por onde começar o trabalho, devido ao seu estado de conservação.
    O estado do carro era tão crítico que toda a sua estrutura estava comprometida .
    A desmontagem total do carro foi inevitável sendo feito a retirada da carroceria de cima do chassi.
    O chassi ,como não poderia deixar de ser feito, recebeu uma atenção toda especial por parte do profissional exigente e perfeccionista como ele só.
    O mesmo foi todo realinhado, até voltar as medidas originais de fábrica pois devido ao mau uso que o carro sofreu ao longo de alguns anos existiam algumas partes que estavam danificadas.
    Aproveitando que o acesso ao chassi estava livre, pois a carroceria não se encontrava em cima do mesmo, depois do realinhamento, foram feitos novos reforços, nas áreas proprícias a apresentarem problemas.
    Com a estrutura do chassi toda em dia e a revitalização do mesmo, partiu-se então para os trabalhos da carroceria que foram um caso a parte.



    A carroceria do Dodge 1950 Kingsway Custom , também recebeu uma atenção toda especial, pois devido ao mau uso do veículo diversas partes estavam danificadas, tais como as soleiras de porta, o paralamas do lado direito,que era divido em três partes e que teve que ser todo refeito.

    Bem como também a porta dianteira do lado direito que literalmente teve que ser ressucitada devido ao seu péssimo estado.
    Depois de feita toda a restauração da carroceria, a mesma foi toda repintada com uma nova cor de tom claro desenvolvida por ele próprio



    O interior do carro recebeu um cuidado todo especial, sendo mantido dentro do possível na época nos padrões originais de fábrica.
    Inclusive o acabamento do painel de instrumentos, que possuía uma pintura reproduzindo o aspecto de madeira.


Nas duas fotos acima, nós podemos ver o Dodge Kingsway Custom 1950 em frente ao portão da oficina São José ao lado do seu irmão mais novo um Dodge Dart de Luxo 1970 verde imperial e o Sr, Danilo fazendo pose junto ao carro logo na entrada do estabelecimento.

Nessa foto, nós podemos ver o Dodge 1950 Kingsway Custom, em um desfile, comemorativo ao dia sete de setembro, na Av. Independência no centro da cidade de São Leopoldo.
E para aqueles que morriam de curiosidade de saber a cor do nosso conhecido carro aí está ele em uma foto colorida feita no ano de 1994.
    Porém, depois de fazer parte da família por mais de quarenta anos, seu Danilo recebeu uma ótima oferta de compra pelo Dodge 1950 e este acabou sendo vendido no ano de 1994, para um colecionador .
    Alguns anos atrás esse carro foi visto em um encontro de carros antigos em Porto Alegre e segundo nos foi contado ainda preservava a mesma pintura feita na época.
    Realmente, essas fotos, são verdadeiras testemunhas da capacidade e do profissional que durante toda a sua vida trabalhou com os automóveis, não medindo esforços, para que o seu trabalho ficasse perfeito e que os seus clientes também ficassem satisfeitos.

O Gasogênio

    Entre os anos de 1939 a 1945 acontecia a Segunda Guerra Mundial e naquela ocasião o fornecimento de combustíveis começou a ficar excasso. 
    Os Estados Unidos da América que na época era praticamente o único fornecedor de combustíveis do nosso país, entrou na luta que acontecia em diversas frentes de batalha e acabou aos poucos diminuindo o fornecimento de combustíveis até que a gasolina se tornasse cada vez mais rara até desaparecer quase por completo.
    Iniciou-se então uma grande pesquisa por algo que pude-se vir a substituir a gasolina, algo que pudesse movimentar os motores da grande quantidade de automóveis e caminhões, que estavam sendo abandonados pela absoluta falta de combustíveis.
    As próprias indústrias, estavam paralisando diversos setores que utilizavam motores estacionários, pois naquela época não havia energia elétrica como nos dias de hoje.
    Depois de muitas experiências e trabalhos, conseguiu-se uma outra fonte de energia, que poderia substituir a gasolina nos motores a explosão.
    Era o gasogênio, aparelho que transformava o carvão de lenha, em gás combustível.
    Assim iniciou-se, a fabricação desses aparelhos , em pequenas oficinas mecânicas que até então dedicavam-se ao concerto de automóveis, passaram a fabricar seus próprios modelos, partindo do princípio da transformação do carvão em gás natural.
    Nessa época seu Danilo ainda trabalhava com o pai, juntamente com o seu irmão, na primeira oficina da família a Garagem América e fabricaram diversos aparelhos de gasogênio da região.
    O carro que recebeu o primeiro aparelho a gasogênio desenvolvido pela família Michel foi um Ford 1935 que era o carro da família.
    Fabricaram não só unidades que se adaptavam em automóveis e caminhões, como também para motores estacionários de indústrias e até mesmo para usinas, como o caso do colégio dos padres jesuítas da cidade de Pareci RS.
    Seu irmão Oscar Diogo Michel, desenvolveu também um aparelho que foi instalado em um motociclo, que funcionou como os demais.
    Com o final da guerra, os bons tempos estavam de volta e a medida que a gasolina começou a ser importada normalmente, os aparelhos de gasogênio foram sendo removidos dos carros e depositados nos pátios das oficinas.
    Com o tempo foram todos sendo vendidos como sucata, ou destruídos pela ferrugem.
    Alguns anos depois, com os aumentos constantes e astronômicos da gasolina causados pela crise do petróleo da década de setenta o governo informou que existia a possibilidade de existir um racionamento de gasolina


    Em virtude desses acontecimentos, e também por um grande incentivo dos filhos e do seu irmão Oscar, novamente construiu um aparelho de gasogênio.
    Durante as suas horas vagas começou com toda a sua dedicação e carinho, a fabricação do novo aparelho de gasogênio, no molde dos antigos.
    Porém agora, o modelo foi adaptado atendendo as características dos carros mais atuais, que na década de setenta eram mais leves, pois não possuíam chassi e também por terem motores mais potentes e modernos do que aqueles da época da segunda guerra mundial.
    Depois de muito trabalho o novo aparelho de gasogênio estava pronto e foi instalado em um Dodge Dart 1970, carro este que também era da família.
    Alguns anos depois, o Dodge Dart 1970, acabou sendo vendido, porém sem o aparelho de gasogênio, que ficou guardado no acervo da família até ser vendido separadamente para um colecionador.
    Porém após mais ou menos seis anos depois da venda do aparelho, conseguimos conversar com o comprador do aparelho, que gentilmente colaborou com o nosso trabalho.
    Nos recebendo e permitindo que nós fizéssemos novas fotografias do aparelho.

Este foi o último aparelho de gasogênio, construído pela família Michel e hoje faz parte do acervo de um colecionador de carros antigos.

Como funciona um aparelho de gasogênio:

    O gasogênio era um aparelho que tinha a função de gaseificar combustíveis sólidos ou líquidos.

    O processo de gaseificação envolvia reações químicas de combustão incompleta do carbono ( C ) e dos hidrocarbonetos ( CnHm) que produzem óxido de carbono ( CO), dióxido de carbono ( CO2), hidrogênio ( H2) e metano ( CH4).
    O calor, necessário à realização dessas reações, é fornecido pelo exterior (ar) nos processos conhecidos como gás-reforming, ou por sopro e gaseificação – combustões seguidas de gaseificação – nos processos chamados de “regeneradores”.
    A produção de hidrogênio e de dióxido de carbono, juntamente com a do nitrogênio (N2), constitui o ponto de partida de diversos processos de síntese química de grande relevância industrial.

    De parciais combustões de carvão ( de lenha, fóssil, restos de minas, etc.) com o ar, obtinha-se um gás de composição mista, conhecido como “gás de gasogênio” , formado pela mistura de óxido de carbono, nitrogênio, hidrogênio e metano, cujo poder calorífico inferior varia entre 950 e 1200 Kcal/m3 normal.
    O carvão de lenha facilitava a depuração do gás nos gasogênios: suas impurezas eram menos danosas e, portanto, requeriam dispositivos bem mais simples.
    Nos gasogênios montados nos veículos, um pequeno fluxo de ar, às vezes misturado com vapor de água fluía, a elevada velocidade através de camadas acesas de carvão coque ou de lenha.
    O conjunto todo compunha-se de gerador de gás; depurador, geralmente colocado sob o chassi; arrefecedor tubular de gás; uma série de filtros; misturador dosador, que substituía o carburador; ventilador centrífugo para a partida; e caixa-reservatório para o combustível.
    A alimentação por meio de gasogênio diminuía o rendimento total do motor de 25 a 30%, dependendo do  rendimento do gerador de gás.
    Podia-se reduzir essa deficiência adotando-se para o motor uma superalimentação de cerca de 30%.
    A evolução dos gasogênios para carros voltou-se para soluções técnicas que adotavam, para a injeção de ar, um injetor em posição central; ao combustível competia agir como isolante térmico.
    Para o arrefecimento dos injetores usavam-se três sistemas: a água, a ar ou por transferência de calor.
    Neste último, ligava-se a extremidade do bico injetor – feito de metal bom condutor de calor – com o ambiente exterior.
    No Brasil o gasogênio apareceu em 1941, quando se agravou o racionamento de combustível.
    Criou-se então a Comissão de Energia Térmica, em São Paulo, com o intuito de estudar a aplicação do gasogênio nos veículos.
    Vários empresários empenharam-se em sua produção e desenvolvimento.
    Até 1945 produziram-se no Brasil cerca de 20 mil aparelhos de gasogênio.




    Um outro fato que vale ser comentado é que na geração dos Dodges nacionais o senhor Danilo trabalhava em parceria com uma revenda da Chrysler.
    Essa parceria iniciou-se com uma concessionária de outra cidade, pois na cidade de São Leopoldo ainda não existia nenhum representante da marca.
    Depois de muita insistência de sua parte, conseguiu conversar pessoalmente com o proprietário da concessionária para acertar uma parceria.
    Além de prestar seus serviços como mecânico para seus clientes, também acabou ajudando em algumas vendas da concessionária pois querendo ou não acabou agindo como um representante informal da marca .
    Dando toda a assistência e orientação aos proprietários dos automóveis Dodge da cidade.
    Sempre que a marca fazia um “ Recall “ encaminhava os carros dos seus clientes e também de algumas pessoas que não faziam parte da sua clientela para passarem por tais serviços.
   Quando algum cliente seu comentava que iria trocar de carro ele perguntava qual o carro que o seu cliente pretendia comprar.
    Se a resposta do cliente não fosse a esperada por ele prontamente dizia:

“ Não compra esse carro não”.
Por quê você não compra um Dodge?
    Voltando ao assunto dos serviços prestados para seus clientes vale mencionar também alguns procedimentos feitos nos carros sem que interferisse na garantia dos mesmos.
    Após a retirada do carro da concessionária o mesmo era encaminhado diretamente para a oficina São José, para receber os tratamentos anti-corrosivos desenvolvidos por ele mesmo.
    Imaginem vocês que o cliente deixava o carro, na oficina e este carro zero quilômetro era todo desmontado, incluindo sinaleiras, forrações inferiores, remoção dos bancos, e forros de porta.
    Esse carro recebia um tratamento a base de uma mistura anti-corrosiva desenvolvida pelo próprio senhor Danilo e após ficar alguns dias de repouso eram novamente montados e devolvidos ao proprietário.
    Como nós estamos falando em Chrysler podemos falar que esse senhor e também os seus filhos tiveram a oportunidade de presenciar toda a existência da Chrysler do Brasil, em especial os automóveis da linha do Dodge Dart , Charger, Dodge 1800 e Polara.
    Trabalharam em praticamente todos os modelos sendo reconhecidos até hoje por isso.
    E puderam ver também o triste fim que alguns exemplares da linha Dodge brasileira, juntamente com demais automóveis do mesmo porte tiveram.
    Sendo vendidos praticamente pelo kg do aço, isso quando não eram literalmente “doados” para os desmanches por seus proprietários não terem dinheiro nem para abastecer os próprios carros
    Ou pior do que tudo isso, viverem o momento em que o concerto de alguns pequenos amassados condenavam um carro integro por que o valor do concerto era o preço de um carro sem nenhum arranhão.


Nos anos de ouro da Chrysler do Brasil o ambiente da oficina São José era como nós podemos ver nessas fotos acima que foram feitas no ano de 1976.
Uma verdadeira autorizada Chrysler e com os devidos veículos em revisão.


   Bom meus amigos, visitantes e seguidores do Blog Showroom Imagens do Passado.
   Esta é uma pequena homenagem, que eu faço a este meu grande amigo chamado Danilo Michel, que sem sombra de dúvidas merecia a muito tempo ter a sua grande e fabulosa história contada com detalhes.
    Porém, mais uma vez eu achei que seria muito egoísmo da minha parte publicar esta grande história somente aqui no blog.
    Decidi então tornar esse registro conhecido a nível nacional .
     Deixei esta história e estas fabulosas fotografias engavetadas por alguns longos meses.
    E felizmente eu consegui alcançar o objetivo.

   Esta história que eu acabei de contar à vocês pessoal ganhou um novo título :
O AUTOMÓVEL  minha vida  e está nas páginas da edição 53 da revista Classic Show Magazine desse mês, com um arranjo super especial, juntamente com uma matéria exclusiva sobre o Dodge Dart.
   Confesso à vocês que quando começei a escrever essa matéria, jamais pensei que na mesma edição  teria uma matéria sobre o Dodge Dart.
   Coincidências à parte tudo isso caiu como uma luva, pois como todos vocês puderam ler logo acima, nosso homenageado e sua família presenciaram toda a história da linha Dodge até os dias de hoje e eu estou muito feliz por isso.


O automóvel minha vida, a história da lenda viva Danilo Michel nas páginas da revista de carros antigos mais conceituada deste país.

    Prezados amigos!
    Apesar da história do Sr. Danilo ter ganhado as páginas da revista Classic Show Magazine, quero comunicar à todos vocês, que deste mesmo endereço onde aconteceram muitos dos fatos mencionados aqui nesta postagem outras histórias ainda estão por vir.
Aguardem novas postagens e continuem visitando o blog Showroom Imagens do Passado


Agradecimentos: 
   
   Quero deixar expresso aqui o meu agradecimento a família Michel, que me deu a honra e a liberdade de poder trazer ao conhecimento de todos vocês e também aos amigos Sandro Mendes, Atos Fagundes e toda a equipe da revista Classic Show Magazine, que aceitou publicar essa linda história nas páginas da revista.



Showroom Imagens do Passado resgatando histórias

Fonte das Imagens: Acervo pessoal da família Michel e acervo pessoal de Maurício de Andrade Silveira

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4 comentários:

Mário César Buzian disse...

Maurício,

Uma das melhores surpresas que o ano de 2010 me reservou foi não só ter-lhe conhecido, mas também a grande alegria de ter finalmente encontrado com o Seu Danilo e toda a sua linda família. Hoje eu posso dizer de boca cheia que faço parte do rol de amigos desse fantástico senhor, e que ele é o nosso querido "professor", e como é gratificante chegar à sua casa-oficina e encontrá-lo sempre disposto a nos contar algo novo...
E também uma das minhas maiores felicidades foi poder levar o nosso Dart Sumatra para visitar a todos em São Leopoldo e poder mostrar que nós também fazemos parte dessa belíssima trajetória de vida...
Meus parabéns pela postagem e pela sensacional homenagem a qual esse homem e sua família merecem, cada vez mais !!!
Um forte abraço nosso !!!

JAmes disse...

Maurício, como fiquei sabendo que essa mesma matéria (aqui no blog ainda mais completa e rechada de fotos!) sairia na Classic Show, não via a hora de receber a revista para conferir. Muito legal mesmo, já falei com o Sr Danilo algumas vezes, mas não sabia que era uma pessoa tão talentosa e dedicada ao automóvel. Parabéns por resgatar todas essas memórias e compartilhar conosco.
Um forte abraço!
Luciano Pietta Lorenzi (JAmes)
H P V8 Clube
Garibaldi - RS

Anônimo disse...

Nossa sem palavras para descrever uma pessoa assim ,incrivel parabéms pela história e as fotos são demais, lindas mesmo gostaria de passar algum minutos com uma pessoa expetacular como ele.Com certeza ira ser muito gratificante ..... VALEU ABRAÇOS
Everton melo BG

Anônimo disse...

Sempalavras, semplesmente lindo. parabens pela materia e parabens a familia Michel.
Abraços,
Guilherme Seferin